sexta-feira, 1 de abril de 2011

É de pequenino que se apre(e)nde o mundo...


"Os modelos internos dinâmicos a respeito da relação de vinculação formam-se, nomeadamente, a partir das experiências repetidas de cuidados prestados pela figura de vinculação à criança (Ainsworth et al., 1978; Weinfield et al., 1999). Inicialmente a criança desenvolve somente um conjunto de expectativas acerca dos comportamentos esperados da figura que lhe presta cuidados, mas à medida que as suas competências cognitivas evoluem, estas expectativas vão transformar-se em representação mais alargadas que comportam não só a acessibilidade do cuidador e responsividade deste, mas também, a imagem do self como merecendo ou não esses cuidados (Bowlby, 1969/1982). Um modelo que resulta de cuidados sensíveis e responsivos caracteriza-se por uma convicção em que se pode confiar no cuidador, pois este lhe vai responder e fornecer ajuda em momentos de necessidade e de que o self merece este tratamento positivo, resultando, portanto, numa visão pessoal valorizada. Pelo contrário, um que tenha origem em interacções com um cuidador insensível vai resultar num modelo de um cuidador não disponível, no qual não se pode confiar para obter ajuda e como consequência, uma visão negativa acerca do próprio self, de não merecedor de tratamento positivo (Bowlby, 1969/1982).

Estes modelos internos dinâmicos vão, por sua vez, ter um papel fundamental na compreensão do mundo pela criança, no planeamento da acção no contexto de relações com os outros e na auto-imagem (Thompson, 1999). De forma essencialmente inconsciente, vão ser filtros interpretativos através dos quais as relações, outras experiências sociais e autocompreensão vão ser interpretados e portanto, construídos. Ao mesmo tempo, vão também, orientar comportamentos que vão ajudar a confirmar e assim a perpetuar esses modelos da realidade. Vão condicionar a acção da pessoa no sentido de elicitar respostas complementares às do seu modelo interno e que vão ser consistentes com as suas expectativas, reforçando-as (Thompson, 1999).

Assim, um modelo interno dinâmico seguro é caracterizado por uma expectativa positiva em relação à competência pessoal em lidar com os problemas e desafios da vida (self seguro e autónomo) e a uma visão de mundo razoavelmente benigno. As pessoas detentoras deste modelo procuram relações nas quais esperam obter satisfação pessoal, têm tendência a pedir apoio de uma forma aberta e positiva em momentos nos quais não têm recursos para lhes fazer frente de forma autónoma e são capazes de retribuir esse apoio (Bretherton, 2005; Thompson, 1999).

As pessoas que desenvolveram um modelo interno dinâmico inseguro pensam o mundo como um lugar pouco previsível e confiável, no qual para se sobreviver ou se afastam das contrariedades ou lutam contra elas. Têm expectativas negativas relativamente às relações com outras pessoas, nomeadamente de desconfiança, incerteza e por vezes hostilidade, expectativas essas que os fazem antecipar fraca responsividade às suas necessidades, criando uma exigência desmesurada de resposta do outro ou, pelo contrário, rejeição do apoio que lhes é fornecido (Bretherton, 2005; Thompson, 1999)."

Retirado de Martins & Soares, 2006 (Tese de doutoramento da orientadora da minha tese de mestrado).
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